Escola Família Agrícola: a educação dos jovens rurais nas escolas do campo


Ser agricultor e amar a vida do campo também se aprende na escola. Essa é a semente que há mais de 6 anos vem sendo plantada na região Leste de Minas Gerais, por meio da criação das Escolas Família Agrícola (EFAs). Leia a seguir a matéria que produzi para a 2a. edição do Informativo Agroecologia no Leste de Minas, da REDE.


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Inspirada na luta por uma educação voltada para a realidade do campo, as Escolas Família Agrícola (EFA) Margarida Alves, em Conceição de Ipanema e Simonésia, seguem a pedagogia da alternância: os/as estudantes ficam 15 dias na escola, tendo aulas teóricas e práticas, dormem em alojamentos e fazem todas as refeições juntos. Depois voltam para um período de 15 dias em suas casas, o tempo-comunidade, aplicando os conhecimentos aprendidos.

O agricultor Breno Keler, de Córrego do Funil, em Conceição de Ipanema, acompanha o trabalho desde o começo, como monitor e voluntário, ajudando na manutenção da escola para as atividades práticas, que vão desde o plantio de lavouras e Sistemas Agroflorestais (SAFs), viveiros, hortas e até a criação de porcos.

Breno e o Sistema Agroflorestal da Escola 
“Eu acredito na educação do campo.
As pessoas estão muito focadas nos grandes centros. Nas outras escolas o que os/as alunos/as aprendem não serve para a realidade do campo e assim não valorizam a vida de trabalhador/a rural. Hoje mesmo já tem pouca gente na roça. Na nossa comunidade já foi muita gente embora”, relata.


Aprendizado para a vida

Além de aprenderem as matérias do currículo tradicional, os/as alunos/as se formam como técnicos em agropecuária. Também dividem as tarefas diárias que vão desde lavar vasilhas até varrer a escola. Segundo Breno, isso ajuda a desenvolver o respeito e a responsabilidade: “Como a convivência é intensa, acabamos nos tornando uma família. Alguns pais relatam preocupações com crianças violentas, que batem, mas aqui isso não acontece.”



O agricultor e presidente da Coopersol, José Antônio de Souza, de São José do Mantimento, estava entre os primeiros da região que enviou seu filho para estudar em EFA e concorda que a experiência é um marco para os/as jovens do campo. “Muitos meninos tímidos, da roça, aprendem a falar em público, e a trabalhar com comunidades.”

José Antônio (de boné) e sua família. O terceiro filho do casal, Ian, o mais
velho, é ex-estudante de EFA e está longe de casa, cursando Agronomia.
Mas pretende voltar: “ele quer trabalhar com os
agricultores daqui e com nossa cooperativa
voltada para agroecologia”,
diz.



A luta

Desde 2007, cerca de 50 jovens das áreas rurais da região Leste já se formaram técnicos em agropecuária pela EFA Paulo Freire, no município de Acaiaca. 

Em 2014, com o início das aulas de ensino médio da EFA Margarida Alves, alunos de 10 municípios da região passaram a frequentar a escola no Córrego Sossego em Simonésia, que fica mais perto. Um sonho que exigiu muita luta, como conta José Antônio: “antes da EFA de ensino médio, a primeira EFA da nossa região é a de Córrego do Funil em Conceição de Ipanema, que iniciou suas atividades em 2009 e atende ao ensino fundamental, do 6º ao 9º ano. Quantas vezes não largamos serviço para participar dos mutirões de construção e pintura da escola".





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